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sábado, 28 de fevereiro de 2009

João Brandão I



O conceito de inimigo não é completamente certo e claro, a não ser que o inimigo esteja separado de nós por uma barreira de fogo.
(Jean-Paul Sartre )


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Continuando a descrever a perseguição de João Brandão ao seu inimigo Ferreiro da Várzea, escreve J. Dias Ferrão:

"... O Miguel pôde então continuar a sua marcha pela via dolorosa e erma das serras, em procura do seu irmão Ferreiro.
Após muitas fadigas foi surpreendê-lo num lugarejo, que fica perto de Sobral Magro, denominado o Covão, dentro de um curral de porcos, que lhe tinha sido indicado como único albergue, por um pequeno, filho de Joaquim Filipe, de Sobral Gordo, que já ia a caminho em procura de um barbeiro para lhe tratar do braço ferido, cujas dores aumentavam de intensidade.


- O Covão -


Foi nesta situação desolada que Miguel Nunes Jorge foi surpreender o irmão.
Prevendo a aproximação dos carabineiros, que a estas horas já se tinham reunido no Casal das Poças da Moura, insistiu com o Ferreiro para continuarem a marcha até encontrarem melhor abrigo.
Mas o Ferreiro, extenuado de fadiga, falto de alimentação, porque, desde a ceia da noite nas Luadas, não tinha voltado a comer, e cheio de dores, preferia que o viessem assassinar ali, a dar mais um passo para se salvar na fuga. Não era homem a quem a morte metesse medo!
Após muitas instâncias, e para não expor a vida do irmão, que corria naquele momento os mesmos riscos,acompanhou-o através da Lomba do Soito da Ruiva, em direcção á estrada que vai para o Sobral Casegas, no concelho da Covilhã.
Porém, ao cimo da ribeira de Parroselos, retrocederam por detrás da Catraia, seguindo ao lado da Mata da Margaraça, aos Pardieiros, para a Benfeita, povoação mais populosa, de gente de boa índole, no concelho de Arganil, onde havia dois curandeiros e onde se lhes afigurava existir um asilo seguro..."


Neste trecho, o seu autor conta como o Ferreiro da Várzea chegou ao Covão, junto a Sobral Magro. A ajuda ter-lhe-ia sido prestada pelo filho de Joaquim Filipe, de Sobral Gordo( o meu avô paterno).
Cresci a ouvir contar a história das peripécias em que o meu avô esteve envolvido, era ele ainda criança.




Obrigada pela visita. Volte sempre.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

João Brandão

Olho por olho, e o mundo acabará cego .
(Mohandas Gandhi)



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Na Terça-Feira de Carnaval, estive entretida com a leitura de um livro que há muito tinha vontade de ler: "João Brandão" da autoria de J. Dias Ferrão.
Sabia que, nele se narravam algumas aventuras daquela personalidade complexa da Beira , passadas na nossa região. É de fácil leitura e os locais que tão bem conheço, desfilaram na minha mente em cada página que lia.

João Victor da Silva Brandão, natural do Casal da Senhora ( Midões) envolveu-se em lutas políticas e, se para uns foi considerado um herói, para outros não passou dum bandoleiro da pior espécie.



João Brandão e as suas milícias moveram uma feroz perseguição a um dos seus maiores inimigos políticos, João Nunes. Este era natural da aldeia do Casal dos Povos da Moura, antiga freguesia de Avô, ferreiro de profissão como os homens da família e casara com uma senhora da Várzea de Candosa. Por essa razão passou a ser conhecido por Ferreiro da Várzea. A sua divisa era: "Morrer ou matar João Brandão."
Não resisto a transcrever alguns excertos do livro em que se narra essa perseguição.
Esta cena iniciou-se na Catraia da Fonte Espinho, em casa do vendeiro José Nunes. Ali se esconderam alguns dos homens de João Brandão, à espera que por ali passassem o Ferreiro da Várzea e o irmão Miguel, que o acompanhava na sua fuga.

"... De repente, o Ferreiro largou a fugir e a gritar para o Miguel que fugisse também, porque estavam perdidos. Neste instante, os bandidos dispararam tantos tiros, que o dono da casa, cheio de susto, deitou-se no chão, e foi necessário que a mulher o fosse levantar, porque já se julgava sem vida, só com o estampido das detonações.
Desta descarga resultou que um tiro da carabina do Matos, mesmo a distância, partiu o braço esquerdo do Ferreiro, pelo antebraço, rés-vés com o cotovelo, continuando este sempre a fugir, sem largar a arma, até atingir o Galampo, que fica entre a Foz da Moura e o Sobral Gordo, se não estou em erro.Nesta altura já era noite cerrada, e já começava a sentir fortes dores no braço, o qual a aumentar de volume ia dificultar-lhe os movimentos, pelo que se viu obrigado a largar a carabina, que deixou sobre uma pedra para nunca mais a tornar a ver. E seguiu sempre a sua carreira até ao Sobral Magro.

Um outro tiro varou o bolso direito das calças de seu irmão Miguel, atravessando-lhe um lenço sem contudo o atingir, e sem que ele também afrouxasse a corrida.Porém, vendo-se quase alcançado pelos que vinham sobre ele, largou a arma ao pé da casa que pertencia a José António Lobo, de Avô, e foi esconder-se debaixo de um açude de madeira, mato e silvas, na Ribeira da Moura, ficando oculto por detrás da queda de água, na parte que estava em seco.

A caravana passou por cima do referido açude, em grande tropel, sem conseguir avistar o fugitivo, que assim se pode furtar às suas iras.

Cobriu-o a noite, com as suas vestes negras, salpicadas de estrelas brilhantes, como os antigos a representavam..."




- Sobral Magro, no passado -


Sobral Magro é a terra natal da minha falecida mãe e Sobral Gordo a de meu pai. As outras localidades de que se fala no texto são-me igualmente familiares e são-no também em relação a muitas das pessoas que visitam este meu blog.



Obrigada pela visita. Volte sempre.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Quaresma


Se permanecerdes na fé e na esperança, Deus fará convosco grandes coisas e exaltará os humildes.
(S. Jerónimo Emiliano)

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Ontem, Quarta-feira de Cinzas, iniciou-se no calendário católico, a Quaresma.
Desde o séc. IV que, durante os 40 dias que se seguem ao Carnaval, a Igreja prepara a Páscoa. Antigamente, este período era vivido duma forma mais austera, tendo como exemplo o espaço de tempo em que Cristo viveu no deserto. Actualmente, esta quadra é vivida duma forma mais ligeira mas sempre com o espírito de oração, a penitência e a caridade.




- Cerimónia do "Lava Pés" no Museu de Cera em Fátima -



Agora que o Carnaval já passou, há que esquecer os excessos e pensar na vida difícil que o Mundo atravessa e naqueles que mais precisam.





Obrigada pela visita. Volte sempre.







quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Ainda o Carnaval

Por sabedoria entendo a arte de tornar a vida mais agradável e feliz possível .
(Arthur Schopenhauer)



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Como referi o meu carnaval deste ano foi passado em casa. Como tal, não pude apreciar , no terreno, o modo como se passou esta quadra festiva na região do Açor. Mas, a internet permite-nos, sem sair do conforto do lar, percorrer algumas das povoações e apreciar alguns carros alegóricos que desfilaram na nossa região.
Do Miradouro de Vila Cova (Vila Cova do Alva), retirei uma fotografia que nos mostra o carro alegórico do Centro de Dia, desfilando no corso daquela localidade.





Os seniores esmeraram-se e demonstraram que ainda podem ser úteis se os souberem orientar para actividades que ainda ainda estejam ao seu alcance.

Parabéns ao Centro de Dia de Vila Cova do Alva!



Obrigada pela visita. Volte sempre.


terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Terça-Feira de Carnaval

Quem não dispõe de reservas em si próprio, é assaltado pelo aborrecimento que o espreita e em breve o dominará.
(Alain)




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Esta Terça-Feira acordou risonha, iluminada por um bonito sol de Inverno que foi aquecendo à medida que o dia ia avançando e fez as delícias dos foliões, que desfilaram em várias localidades do país.
Como já tinha previsto, passei esta terça feira-gorda no aconchego do lar. Ao almoço tive a companhia da filha e da neta. E lá vinha ela com o seu fato de sevilhana, toda ufana da figura que fazia.






A restante parte da tarde, passei-a refastelada no sofá da minha sala a ler e dando, de vez em quando, uma espreitadela na televisão, onde se viam os desfiles de Carnaval dos vários pontos do mundo.
Quanto ao nosso, foi um desfile de sátira política e mulheres com disfarces cada vez mais reduzidos, acompanhados de música brasileira.
Quanto a mim, muito pouco interessante. O mesmo de sempre...




Obrigada pela visita. Volte sempre.



segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Sonho de uma Terça-Feira Gorda


Sorria! Sorrir abre caminhos, desarma os mal-humorados, contamina. Mas sorria com a alma, não apenas com os lábios.

( Lea Waider)


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SONHO DE UMA TERÇA-FEIRA GORDA


Eu estava contigo. Os nossos dominós eram negros, e negras eram as nossas máscaras.
Íamos, por entre a turba, com solenidade,
Bem conscientes do nosso ar lúgubre
Tão contrastado pelo sentimento de felicidade
Que nos penetrava. Um lento, suave júbilo
Que nos penetrava... Que nos penetrava como uma espada de fogo...
Como a espada de fogo que apunhalava as santas extáticas.
E a impressão em meu sonho era que se estávamos
Assim de negro, assim por fora inteiramente de negro,
– Dentro de nós, ao contrário, era tudo claro e luminoso.

Era terça-feira gorda. A multidão inumerável
Burburinhava. Entre clangores de fanfarra
Passavam préstitos apoteóticos.
Eram alegorias ingênuas, ao gosto popular, em cores cruas.
Iam em cima, empoleiradas, mulheres de má vida,
De peitos enormes – Vênus para caixeiros.
Figuravam deusas – deusa disto, deusa daquilo, já tontas e seminuas.

A turba, ávida de promiscuidade,
Acotovelava-se com algazarra,
Aclamava-as com alarido.
E, aqui e ali, virgens atiravam-lhes flores.

Nós caminhávamos de mãos dadas, com solenidade,
O ar lúgubre, negros, negros...
Mas dentro em nós era tudo claro e luminoso.
Nem a alegria estava ali, fora de nós.
A alegria estava em nós.
Era dentro de nós que estava a alegria,
– A profunda, a silenciosa alegria...




Manuel Bandeira, Carnaval, 1919




Carnaval - Recados Para Orkut

Recados.net



Obrigada pela visita. Volte sempre.



sábado, 21 de fevereiro de 2009

Recordando o Carnaval da Minha Infância

Perco o desejo do que procuro ao procurar o que desejo.
(Antonio Porchia)

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Não tenho dúvida que os tempos de criança ditaram o meu desamor pelo Carnaval na cidade. Filha de pessoas humildes, via da minha janela, as crianças que passavam mascaradas com vistosos e coloridos fatos, que encantavam a cabecita de qualquer criança. Eu não entendia a razão, porque não me podia fantasiar também com fatos bonitos como aqueles.
Só podia vestir as roupas velhas da minha mãe e nem sequer me deixavam ir para a rua... Mas, o que eu gostava mesmo, era daquele fato de sevilhana, cheio de folhinhos, vermelho com bolas pretas e da mantilha presa na cabeça com uma linda travessa, que uma pequenita exibia orgulhosamente, quando passava junto à minha janela. E as grandes argolas que lhe pendiam das orelhas... E o leque que manejava com desenvoltura... E os sapatinos tão pequeninos, às bolinhas... E o som das castanholas... Como eu gostava de ter umas! Ui, que inveja eu sentia!...
E se aquele tipo de inveja era pecado, todos os Carnavais eu pecava, pois nunca tive um fato assim.





(Imagem tirada da net)

Mas, vinguei-me. E se vingança é pecado, vou voltar a pecar.
O ano passado estive em Barcelona e comprei umas castanholas para mim e um fato de sevilhana para a minha neta.
Quando ela regressar da visita semanal ao pai, vou mascará-la de sevilhana. Com castanholas e tudo...
E, contradição das contradições, actualmente quando passo o Carnaval na aldeia, gosto de me mascarar. Mas como?
Agora que podia comprar uma fantasia vistosa, prefiro vestir-me de matrafona. Vá lá a gente entender porquê...


- Carnaval de 2008 -



Obrigada pela visita. Volte sempre.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Carnaval à Porta


O bom humor espalha mais felicidade que todas as riquezas do mundo. Vem do hábito de olhar para as coisas com esperança e de esperar o melhor e não o pior.
(Alfred Montapert)


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Entrámos em plena época de Carnaval.
Para algumas pessoas, esta quadra representa uma sucessão de manifestações de alegria, em que muitos aproveitam o facto de se mascararem para agirem duma forma que não seriam capazes em outras alturas.
Eu, pessoalmente não sou muito adepta do Carnaval nos moldes actuais, pois caiu-se em excessos de que não sou apreciadora. Mete-me dó ver raparigas desfilando, com os corpos semi-nus sob um clima frio como é o nosso, numa tentativa de imitação do carnaval do Brasil, onde o calor aperta .
Normalmente passo o Carnaval na aldeia, pois no Porto Silvado costuma proceder-se à matança do porco , nesta altura do ano. Então costumamos mascarar-nos tentando manter a tradição mas sem exageros.
Nas aldeias, o Carnaval era passado duma forma simples e popular. Era trapalhão mas muito alegre.
Aproveitando a prata da casa, os foliões saíam para a rua com roupas velhas. Alguns rapazes vestiam-se de raparigas e divertiam-se cantando, dançando e pregando partidas às pessoas que por eles passavam. Muitas vezes, quando apanhavam uma porta de casa aberta, atiravam coisas lá para dentro, assustando os proprietários. De região para região havia costumes próprios, mas sempre tendo em vista a diversão.
Este ano, vou ficar por Fernão Ferro. Possivelmente, vou apenas dar uma vista de olhos pela televisão e assistir às diferentes manifestações carnavalescas, que se forem passando nos países onde há esta tradição.


- Carnaval de 2008 em Porto Silvado -


Obrigada pela visita. Volte sempre.




quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Desafio

Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses.
(Sócrates)


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A amiga Dulce Costa lançou-me um desafio que prontamente aceitei. Terei que escrever aqui seis particularidades minhas. Vou confessar três coisas de que gosto e outras tantas de que não gosto. Então vamos lá:
- Gosto da minha família e dos meus poucos amigos. São o meu suporte, o meu porto de abrigo, os meus melhores conselheiros nos bons e maus momentos;
- Gosto da serra com o seu ar puro. Transmite-me tranquilidade e alivia-me do stress do ambiente urbano; Ali me refugio, carrego baterias, percorrendo os seus estreitos caminhos e bebendo a água fresca e cristalina das suas nascentes;
- Gosto de viajar. Conhecer novas culturas, usos e costumes de diferentes civilizações e também de viajar pela net, onde me perco percorrendo vários blogs, horas e horas a fio;
- Não gosto de rotinas. Embora a vida esteja cheia delas eu quebro-as frequentemente. Mudo as coisas e faço experiências;
- Não gosto da hipocrisia nem da mentira. Mesmo que a verdade magoe, posso tirar ilacções e fico a saber com o que posso contar;
- Não gosto, detesto mesmo a política. Estou farta de mentiras, vigarices e afins. Já não tenho paciência para aturar gente com tão pouca vergonha;

- Auto retrato (carvão), quando tinha 21 anos -


Cumpri o que me foi pedido. Agora vou passar a outros:

Viriato Libertador

mgomes

luantes




Obrigada pela visita. Volte sempre.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Eu e a Leonor

O amor é a força mais subtil do mundo.
(Mahatma Gandhi)



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Após a separação dos pais, a Leonor passou a estar mais tempo cá em casa e, de terça para quarta feira passa cá também a noite. São dias vividos intensamente.
É bom recordar o tempo distante em que os filhos eram pequenos. Que bom que tem sido recordar os primeiros sorrisos, os primeiros passos , a forma ternurenta com que olhavam para mim, as primeiras palavras balbuciadas atabalhoadamente, as primeiras brincadeiras, o som gostoso de quando me chamavam mãe, ...
Até nisso. É tão bom ouvir agora a forma carinhosa como a minha neta olha para mim, com aquele sorriso doce e puro, me abraça e me chama de "Mãe-Vó ".
E quando faz as maroteiras próprias da idade e se agarra às minhas pernas ,desarmando-me por completo.
Agora , compreendo porque se diz que os avós estragam os netos.






As fotografias que aqui deixo hoje, são o resultado de brincadeiras que fiz com ela no computador, tirando fotografias com a webcam.
Não têm qualidade fotográfica, mas têm qualidade de afectos.







Obrigada pela visita. Volte sempre.


terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Assembleia Geral/Aniversário da C.M. Vale do Torno

As pessoas realmente ligadas não precisam de ligação física. Quando se reencontram, mesmo depois de muitos anos afastados, sua amizade é tão forte quanto sempre.
(Deng Ming-Dao)


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Da Comissão de Melhoramentos do Vale do Torno, recebi o e mail que passo a divulgar:

Caros Sócios e Amigos:

Vai decorrer no próximo dia 15 de Março, Domingo, pelas 10.00h, a nossa Assembleia Geral, seguida do almoço de aniversário da nossa Comissão.
O almoço será no Restaurante "A Caneca dos Redondos" e constará de: entradas, sopa, grelhadas mistas, sobremesa, bebidas (não espirituosas) e café.

O preço é de:
4 - 10 anos = 15€;
maiores de 10 anos = 20€.

As marcações deverão ser feitas até dia 8 de Março para os telefones:
212250462 / 965003739 / 939555768.

Como sempre contamos com a sua presença e com a sua colaboração.
Muito obrigada.


Obrigada pela visita. Volte sempre.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

De Noite





O cansaço físico, mesmo que suportado forçosamente, não prejudica o corpo, enquanto o conhecimento imposto à força não pode permanecer na alma por muito tempo.
(Platão)




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(Imagem da Net)


DE NOITE

Ele vinha da neve, dos trabalhos
violentos, custosos, da enxada,
cantando a meia voz, pelos atalhos.


A mulher, loura, infeliz, resignada,
cosia junto à luz. O rijo vento
batia contra a porta mal fechada.


Ao pé havia um Cristo, um ramo bento
e uma estampa da Virgem, colorida,
cheia de mágoa, olhando o firmamento...


Uma banca de pinho, mal sustida.
vacilante nos pés; um candeeiro,
companheiros daquela negra vida.


O homem, alto, pálido, trigueiro,
entrou. Tinha as feições queimadas, duras.
dos que andam, com a enxada, o dia inteiro.


A mulher abraçou-o. As linhas puras
do seu rosto contavam já tristezas
de grandes e secretas amarguras.


Tinha chorado muito as estreitezas
daquela vida assim!... Talvez sonhado
um dia com palácios e riquezas!


Ele deitou-se a um canto, fatigado
de erguer-se, alta manhã, todos os dias.
mal voavam as pombas do telhado.


Lá fora, nuvens grossas e sombrias
no pesado horizonte. Ele assim esteve
– as noites eram ásperas e frias -.


Ela cobriu-o duma manta leve,
esburacada, velha. No telhado
ouvia-se cair, sonora, a neve.


Ela então meditou no seu passado;
no seu primeiro beijo, nas lembranças.
talvez, do seu vestido de noivado,


e nas tardes das eiras, e das danças
às estrelas, e aquela vez primeira
que a rosa lhe furtou das longas tranças;


e aquela tarde, junto da amoreira,
que trocaram as mãos; e na janela;
e quando olhavam, juntas, a ribeira;
e quando ela tímida e singela...
Lá fora, dava o vento nos caixilhos;
não brilhava no céu nem uma estrela.


E, àquela hora da noite, por que trilhos
andariam no mundo – ela cismava -
nas misérias, talvez, sem rumo, os filhos!...


Ele, na manta velha, ressonava.


Gomes Leal






Obrigada pela visita. Volte sempre.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Eu e a Serra do Açor VI



O amor é o único jogo no qual dois podem jogar e ambos ganharem.
(Erma Freesman)


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Nas minhas memórias da Serra do Açor, está bem presente o dia em que, em Lisboa num convívio regional, encontrei um antigo colega da escola da aldeia. Após algum tempo iniciámos o namoro e, mais tarde, casámos na capela de Sobral Magro.

- Eu e o Fernando com Avô como fundo -


Hoje, dia de S. Valentim, não podia deixar passar a data sem deixar aqui este testemunho sobre mais esta ligação que tenho com a serra do Açor: o meu marido.













sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Eu e a Serra do Açor V


Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós./ Deixam um pouco de si,levam um pouco de nós.
( St.Exupery )
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Continuando a percorrer as minhas memórias no Açor, recordo os primeiros dias de escola e a minha primeira professora. Como já expliquei, o mês de Outubro era passado na escola de Sobral Magro e o resto do ano lectivo na escola da minha área de residência em Lisboa. Duas escolas completamente diferentes em meios diferentes também e, mais uma vez, a pequena escola da aldeia saiu a ganhar. No seu recreio ao ar livre, podia brincar à vontade enquanto que na da cidade, situada num andar dum prédio, brincava apenas num salão fechado.

- Eu e a minha primeira professora -

Mais velhinha, lembro-me da época das festas em que eu acompanhava os jovens do Sobral Magro às festas das terras vizinhas. Era com grande entusiasmo que nos juntávamos, para rumarmos à povoação em festa. Alguns rapazes levavam os seus instrumentos musicais, para mostrarem as suas habilidades tocando e animando o baile. E que agradáveis eram as desgarradas em que os cantadores das várias terras se desafiavam, num fado muitas vezes mandado, que teimava em não acabar.
Era divertida e saudável esta vivência. Muitos casamentos se arranjaram entre jovens de aldeias diferentes devido a essa interacção festiva.

E agora, enquanto bebo o meu cafezinho, lembro-me do cheiro dum outro café. O café da minha avó, feito na lareira, num púcaro de barro preto.
E , enquanto escrevo, uma lágrima teimosa rola-me pela cara, as imagens vão-me passando pela memória e, sinto uma saudade imensa daquele gostinho único, que jamais voltarei a sentir.
- Eu e a minha falecida avó materna -

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Eu e a Serra do Açor IV


Metade do mundo não consegue compreender os prazeres na outra metade.
(Jane Austen)


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Não sendo saudosista, por vezes passam-me pela lembrança algumas vivências que tive oportunidade de sentir nas férias na serra e que gosto de recordar.
Lembro-me de como era bom acordar ao som do chilrear dos passarinhos nas árvores do meu quintal; ir à janela, sentir o vento suão roçar a minha face e respirar o ar puro da serra; saciar a sede com a água pura e fresca das nascentes e ribeiras; trepar às árvores, num desafio constante contra o perigo, até começar a ouvir o som dos troncos a esgalhar; colher os frutos nas árvores e degostá-los encavalitada nos seus frágeis ramos;...
E, quando me cansava de tanta paz, gostava de sair com a minha prima no meu mini, percorrendo as perigosas estradas (na altura de terra batida) e ir à descoberta de um pouco mais de bulício: uma festa, uma feira, um mergulho no rio Alva (em Avô), ou simplesmente uma conversa com amigos das aldeias das redondezas.
- Eu e o meu Mini, em Pomares -


Nunca me vou esquecer dos serões passados na minha casa, numa época em que não havia electricidade no Sobral Magro. Como a minha casa tinha energia proveniente dum gerador, só nós tínhamos televisão. Então, à noite quase todos os sobralmagrenses se juntavam num andar amplo que havia na habitação.
Ali tinham um banco para se sentarem e seroávamos todos em ambiente de grande animação.; mesmo quando os programas não tinham interesse, era uma maneira bem divertida de passarmos o início da noite.
Ests serões repetiam-se diariamente enquanto nós estávamos de férias e enquanto não começavam as debulhas.


- Em Avô, junto ao Alva e ao Picoto -


quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Eu e a Serra do Açor III


Só existe uma coisa melhor do que fazer novos amigos: conservar os velhos.
(Elmer G. Letterman)



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Quando pensei em escrever um pouco sobre mim e a ligação que sinto com a serra, era inevitável escrever sobre a “Hortensita“.
A “Hortensita” é uma das minhas primas que foi criada no Sobral Magro.
Sendo eu filha única, foi com ela que estabeleci a cumplicidade própria dos irmãos.
Era com ela que brincava com as bonecas que fazíamos com pequenos trapos; era com ela que ia muitas vezes para a fazenda, tratar das cabras e das ovelhas, regar ou fazer alguns dos trabalhos agrícolas que ela tinha à sua responsabilidade; era com ela que engendrava as traquinices de criança e as partidas de Carnaval; era ela que me acompanhava às festas das aldeias das redondezas. Sim, porque nós ainda somos do tempo em que uma menina não devia ir sozinha ao baile. Como o meu pai ia comigo, ela ia também.
Era com ela que trocava confidências. E que bem que me lembro das primeiras noites de férias na aldeia… Todos os anos era o mesmo. Noites mal dormidas, acordadas até altas horas da madrugada.
Foi a minha companhia no meu primeiro ano como professora no Sobral Magro, nas reuniões e nas viagens que fazia.

Assim fomos crescendo, até que cada uma casou e ficámos a morar afastadas.
Embora os maridos estejam ligados a terras da mesma freguesia, cada uma passou a frequentar aldeias diferentes. As férias muitas vezes não coincidiam e o afastamento aconteceu inevitavelmente.
Actualmente já comunicamos com mais regularidade. Abençoada internet!
Graças a ela podemos conversar sempre que nos sentamos à frente do computador. Praticamente leigas nestas “modernices“, fazemos alguns disparates que originam sempre momentos de bom humor.
Que assim seja por muito tempo, prima!

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Eu e Serra do Açor II

A liberdade me ensinou e muito bem que nela se concentra todo o prazer possível.
(Margarida, rainha de Navarra)



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Na serra sentia-me livre, podia fazer aquelas pequeninas coisas de que eu gostava e que na cidade não podia fazer. Uma das que mais me agradava era andar descalça.
Chegava a Pomares, guardava s sapatos e percorria os aproximadamente 7 Km ,que separam a sede de freguesia do Sobral Magro, descalça, pisando o borralho fofo e quente nas tardes quentes de Verão ou as poças de água quando chovia. Toda a família me repreendia mas, apesar das topadas e das urtigas, era assim que me sentia bem. Tanto fazia dizerem-me que me mordiam os alicrairos (lacraus), como não. Eu queria lá saber do bicho para alguma coisa... Era como me dizia há dias a amiga blogueira Dulce Costa : "Pés descalços sempre me deram uma sensação de mais liberdade".
E como era bom brincar no leito da ribeira, saltando de seixo em seixo , escorregar aqui e além e ficar toda encharcada, para depois secar na extremidade de um cômbaro, repenicando os bagos com pintor das uvas moscatéis.
E que saudades eu tenho de caminhar chapinhando numa levada, saboreando as amoras e morangos silvestres que pendiam das paredes dos bocados...
Só quem viveu estes pequenos prazeres lhes pode dar valor.
Foi assim pela vida fora e, ainda hoje, é assim que me sinto bem.


- Há alguns anos atrás no Porto Silvado -

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Eu e a Serra do Açor



Para a maioria, quão pequena é a porção de prazer que basta para fazer a vida agradável!
(Nietzsche)

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Nascida e criada em Lisboa, o amor que me liga à serra do Açor, vem desde que me conheço e provém do facto de passar as minhas férias na terra natal de meus pais.
Ali aprendi o quão dura era a vida naquelas aldeias isoladas, perdidas nas encostas da serra, mas também desfrutei dos prazeres que, só a natureza daqueles locais praticamente selvagens, nos pode proporcionar.


Talvez por não viver ali o ano inteiro, quando lá me encontrava gostava de acompanhar as minhas primas e amigas nos trabalhos agrícolas e integrava-me com facilidade no meio rural, completamente diferente daquele em que fui crescendo a maior parte do ano.




Nunca aprendi grande coisa, mas foi o suficiente para que o gosto por tudo o que é campestre se entranhasse dentro de mim.
Foi, talvez por isso, que vim viver numa zona nos arredores de Lisboa, onde tenho um pequeno terreno com árvores e jardim e, muitas vezes, me sento recordando os meus tempos de menina e moça no Açor.









sábado, 7 de fevereiro de 2009

Tigelada




A fome é o tempero do alimento.
(Autor Desconhecido)

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Acabei só agora de arrumar a minha cozinha. Demorei mais um pouco porque hoje apateceu-me tigelada. Assim, após o jantar pus mãos à obra e ei-la aqui no forno:



Na zona da serra do Açor todos sabem fazer este doce regional. Nuns locais com mais açúcar, noutros com menos, o resultado é sempre delicioso. Há aldeias em que acrescentam farinha à receita mas, a que me foi ensinada no Sobral Magro é a que aqui deixo para quem não conhecer.


Ingredientes:

1l de leite
12 ovos
Açúcar a gosto

Preparação:

Batem-se os ovos, mistura-se o leite e o açúcar num alguidar.
Prova-se a mistura e se necessário junta-se mais açúcar.
Distribui-se o batido por tachos de barro vidrado, não os enchendo em demasia.
Leva-se ao forno bem quente, durante aproximadamente 45 minutos.
Retira-se do forno, deixa-se arrefecer e
BOM APETITE



sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Artesanato IV

A arte alimenta-se de ingenuidades, de imaginações infantis que ultrapassam os limites do conhecimento; é aí que se encontra o seu reino. Toda a ciência do mundo não seria capaz de penetrá-lo.
(Lionello Venturi)



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De entre os trabalhos de artesanato que estão mais em voga na região do Açor, destaco hoje os trabalhos feitos utilizando a rocha que predomina na zona: o xisto .

As casinhas de xisto

- Trabalho de Manuel Quaresma (Sobral Magro) -

- Trabalho de José Castanheira (Porto Silvado) -

Pintura em xisto




- Dois trabalhos que fiz para oferecer a amigos -



quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

A Aldeias

O amor é a asa veloz que Deus deu à alma para que ela voe até o céu.
(Michelangelo Buonarroti)


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AS ALDEIAS

Eu gosto das aldeias sossegadas,
com seu aspecto calmo e pastoril,
erguidas nas colinas azuladas,
mais frescas que as manhãs finas de Abril.

Pelas tardes das eiras, como eu gosto
de sentir a sua vida activa e sã!
Vê-las na luz dolente do sol-posto,
e nas suaves tintas da manhã!...

As crianças do campo, ao amoroso
calor do dia, folgam seminuas,
e exala-se um sabor misterioso
da agreste solidão das suas ruas.

Alegram as paisagens as crianças
mais cheias de murmúrios de que um ninho;
e elevam-nos às coisas simples, mansas,
ao fundo, as brancas velas dum moinho.

Pelas noites de Estio, ouvem-se os ralos
zunirem suas notas sibilantes...
E mistura-se o uivar dos cães distantes
com o cântico metálico dos galos.

(Gomes Leal)



- Porto Silvado e Gramaça, duas aldeias da serra do Açor -