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quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A Fonte do Meu Lugar

Os leitores d' O Açor já devem ter reparado que nos últimos tempos, sempre que posto algum poema, escolho um poeta da serra do Açor.
Hoje foi  Viriato Gouveia, natural de Aldeia das Dez e a poesia A Fonte do Meu Lugar que escolhi para divulgar.

A fonte do meu lugar
Ponto de encontro prá amar
Noutro tempo à noitinha
Está para ali a chorar
Por ninguém lá ir buscar
A sua água fresquinha.
Cântaros de barro à cabeça
Já não há quem os conheça
Na elegância do andar
Das moças namoradeiras
Acabaram as cantareiras
Que dantes havia no lar.
Lembra a fonte com saudade
Segredos da mocidade
Devaneios do coração:
Hoje há água da rede
E ninguém lá mata a sede
De amar que havia então.
Em ti bebeu tanta gente
Foste minha confidente
Oh fonte da minha aldeia
Peço-te perdão a cantar
Por nunca mais me sentar
No banco que te rodeia.
A minha fonte esquecida
Sempre fiel e amiga
Merece aqui ser lembrada.
Porque após tanto enredo
Do que ouviu guardou segredo
Do que viu não contou nada.
- Gramaça - Aldeia das Dez -



Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Homens da Serra: O Guarda Florestal

Enquanto escrevia o post de ontem, passaram-me pela mente imagens há muito perdidas no tempo. Juntei-as uma a uma e, aos poucos, senti-me na minha aldeia.
Lá ia a tia Assunção com os filhos atrás a caminho do Barrocal.

O marido, o tio José Domingos  era guarda florestal, e habitava na casa da guarda,  junto à povoação dos Parrozelos. Vinham à aldeia ao fim de semana e sempre que as terras de cultivo  o exigiam.
Ele aparecia  na sua motorizada,  envergando uma  farda bem diferente dos fatos de trabalho dos outros habitantes do Sobral Magro. A muher e os filhos  faziam a pé, o longo e penoso  percurso que separa os dois locais, muitas vezes carregados com os seus haveres.
A vida foi difícil para esta família. Viviam isolados a maior parte dos dias da semana, num local ermo enquanto o tio José percorria a serra vigiando as matas e fiscalizando caminhos florestais em construção.
O tio José  já faleceu e a casa que no passado habitou caiu também e está agora em ruínas.

Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Casas dos Guardas Florestais

 
 

Parrozelos - Casa do Guarda Florestal

- Casa do guarda nos Parrozelos -

Quem percorre a nossa serra encontra de vez em quando casas com as mesmas características, isoladas e estrategicamente situadas em pontos altos das encostas  dos montes. São as casas dos guardas florestais.
Nelas habitaram há anos os guardas florestais  com as suas famílias, tendo aqueles a missão de vigiar a serra  no período de tempo que se seguiu à arborização dos baldios.
Mais tarde,  essas casas foram abandonadas e algumas encontram-se mesmo em ruínas.
Lembro-me bem da época em que a zona mais elevada da minha aldeia foi florestada. Assisti ao crescimento dos pinheiros mas  assisti também ao seu desaparecimento engolidos nas chamas. Alguns resistiram, outros renasceram das cinzas e, quando já tinham, de novo, um tamanho considerável foram novamente devastados por outro incêndio. 
Será que se estas casas estivessem de novo habitadas por guardas que procedessem a uma maior fiscalização das matas, se poderiam evitar alguns fogos florestais?


Vale de Maceira - - Casa do Guarda no Vale de Maceira -

Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Baile da Pinha do GDCSR

Recebi por e-mail a seguinte informação que passo a divulgar.


Caros amigos!
O Grupo de Danças e Cantares de Soito da Ruiva organiza, no próximo dia 3 de Março, mais um Baile da Pinha, no Clube Recreativo e Desportivo da Ramalha - Almada.
Segue em anexo com detalhes.
 Desde já estão convidados e agradecemos a divulgação desta iniciativa.
 Saudações regionalistas,
A Direcção


Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

 

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Notícias de Pomares: Soito da Ruiva

Recordo uma vez mais o jornal Notícias de Pomares que ,  no meu tempo de criança, lia com entsiasmo, pois era através dele que sabia as novidades que se passavam  na minha freguesia.
O jornal acabou mas algumas notícias ficaram na memória dos habitantes da freguesia de Pomares.
Hoje destaco um pequeno texto escrito pela regente escolar do Soito da Ruiva,em Fevereiro  de 1962.


No Soito da Ruiva, como em outras aldeias do interior já não há crianças para frequentarem a escola, mas os edifícios escolares permanecem apesar de alguns se encontrarem em ruínas. Não é o caso do Soito da Ruiva cujo edifício foi praticamente destruído num dos grandes incêndios que assolaram a povoação, pois os seus habitantes fizeram-no renascer das cinzas. Hoje funciona ali  a Casa de Cultura da aldeia, um local onde as memórias jamais se perderão.

Obrigada pela sua visita. Volte sempre.


 

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Entrudo na Serra

Naquele Domingo Gordo, encontrava-se sozinha, sentada  no quentinho da lareira na casa da aldeia, absorta nos seus pensamentos. Os  olhos fixos no rasto de fumo que subia a caminho da chaminé, ajeitava  maquinalmente as cavacas que ardiam com grande intensidade, enquanto  pensava como era calma a época do Carnaval na aldeia.
Habituada aos Carnavais  da cidade de que não gostava, bebia cada momento daquele momento de tranquilidade, quando foi acordada dos seus pensamentos com o ruído vindo da rua.
Vozes e gritos de crianças, barulho de latas a bater, uma confusão de sons que a fez levantar e chegar à janela.
No Largo da Barroca, um grupo de crianças soltava  sonoras gargalhadas, correndo atrás dum grupo de mascarados  munidos de latas e paus,  segurando  os trapos que lhes tapavam o rosto. Num outro  grupo, os seus elementos, em grande gritaria, tentava descobrir-lhes a cara e adivinhar quem era quem.
Naquele momento, sentiu-se impelida a participar nas brincadeiras. Qualquer coisa a empurrava. para a rua.
Foi ao guarda fatos onde a mãe guardava roupas que já não se usavam ou já não serviam e vestiu-se da forma mais trapalhona  que conseguiu.  Enfiou uma meia de vidro na cabeça e,  saiu para a rua para participar nas brincadeiras próprias do Entrudo na aldeia. Ali podia brincar sem receio. Todos eram uma família e as brincadeiras eram espontâneas.
Nessa altura, começou a sentir todo o entusiasmo, percebeu o verdadeiro sentido das brincadeiras e integrou-se no grupo de mascarados. Meteu-se com as pessoas que ouvindo a algazarra assomavam  à janela, bateu às portas das casas fechadas, abriu as que tinham a chave na porta, entrou em todas as adegas  seguindo  o grupo e, embora não bebesse, petiscava aqui e ali uma rodela de chouriço, uma tira de presunto, uma sardinha de conserva com cebola, uma lasca de bacalhau salgado, ...  
E, assim passou uma tarde animada, divertindo-se com todos sem ninguém a reconhecer.
Alguns foram ficando pelo caminho não resistindo aos exageros com a bebida mas, para ela, o divertimento não parou com o anoitecer. Depois da ceia, o baile na casa do tio Zé Morgado, foi o ponto alto do dia, animado pelo tio Inocêncio que  com a sua concertina tocou as modas tão ao gosto dos resistentes.
Chegou ao final do dia cansada mas entusiasmada e divertida. Descobrira o verdadeiro sentido  carnavalesco que tinha dentro de si, o Entrudo.

Obrigada pela sua visita. Volte sempre.
 

 

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Feliz Carnaval

Sem tempo para mais, desejo que todos os meus amigos e seguidores tenham passado




Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Lombinhos de Porco à Moda da Serra

Estamos em final de época de bruziadas. Os presuntos, pás, patas e carne gorda já estão na salgadeira, os chouriços no fumeiro, os torresmos e o lombo em talhas cobertos de banha aguardando o dia em que serão consumidos. 

Bem lá do fundo do baú das minhas recordações saem os cheiros e sabores da serra.
Em tempo de "adeus à carne" uma receita de carne de porco,  da gastronomia do concelho de Arganil:

Lombinhos de Porco à Moda da Serra

Ingredientes para os lombinhos

1, 5 Kg de lombinhos de porco 
2 dl de vinho tinto
3 dentes de alho
Pimenta - q. b.
Sal - q. b.

Ingredientes para as batatas 

1,5 Kg de batatinhas pequenas
1 dl de azeite
4 dentes de alho
Sal (q.b.)

Preparação
Espalme os lombinhos.
Tempere-os com o vinho tinto, os alhos laminados, o sal e a pimenta e deixe a marinar durante 3 dias em lugar fresco.
Ao fim deste tempo prepare as batatas, tendo o cuidado de as lavar muito bem.
Coza-as com um pouco de sal a mais e sem as descascar.
Quando as batatas estiverem cozidas, escorra-as, descasque-as, esmurre-as ligeiramente e salteie-as numa frigideira com o azeite e os alhos.
Entretanto, grelhe os lombinhos em fogareiro de carvão ou na brasa da lareira.
Sirva acompanhado com grelos de nabo ou de nabiça, temperados com azeite e alho e acompanhado com broa de milho.

Lombinhos de Porco à Moda da Serra
Fonte: http://argus.no.sapo.pt
Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Convívio de Páscoa em Sobral Magro

A direcção da Comissão de Melhoramentos de Sobral Magro vai realizar mais um almoço/convívio no próximo dia 7 de Abril (Sábado da Aleluia).
Desta vez o almoço vai ser Cozido à Portuguesa e tudo se processará nos moldes dos anteriores convívios. Dentro em breve serão dadas mais explicações.


Festa: P
 


Entretanto, a Direcção informa que o preço por pessoa será de 10 € e solicita que façam as marcações para os telefones  210880222 ou 914537613 ou por e-mail para pedroalexandreg@gmail.com


Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Memórias da Aldeia: Serões

Ainda decorria a ceia e já ouvíamos vozes  na rua. Passados momentos os degraus de madeira da escada  rangiam e ouvíamos o riso abafado de crianças que, ao assomarem  à porta da cozinha, tentavam "meter-nos medo". Nós fingámos que nos assustávamos e a gargalhada era geral. Eram as minhas tias e primas que chegavam para passar o serão em casa da avó. Logo  fazíamos um "cabito" para cada um e a casa ganhava animação.
A  avó dobava fitas que uma  das tias  fazia, rasgando pedaços de tecidos de roupas velhas que já não davam para remendar.
A outra aproveitava também alguns pedaços, cozia-os uns aos outros, fazendo coloridos sacos. A prima mais velha, enquanto fazia renda, tentava ensinar as mais novas a fazer cordão, iniciando-nos assim numa arte em que era exímia.
Enquanto estipulava o trabalho para o dia seguinte, o avô retirava da algibeira a onça de tabaco  e o livrinho de mortalhas, com os quais fazia um cigarro com a mestria de muitos anos de vício. Depois, acendia-o numa brasa ainda acesa e  fumava lentamente  ao mesmo tempo que narrava as suas aventuras passadas no Seixal, onde trabalhara em novo, passando depois para as lendas e estórais de mouras encantadas, bruxas e lobisomens. Era aqui que eu muitas vezes me assustava.
As minhas primas, mais habituadas a ouvir estas estórias, já nem ligavam. Mas eu, que só permanecia na aldeia durante as férias de Verão, ficava cheia de medo e, até mesmo  as nossas sombras, que a luz do candeeiro projectava na parede, me assustavam.
Finalmente, as tias e primas  regressavam a suas casas, "alumiados" por  uma pinha que acendiam no que restava da fogueira e nós íamos também para a cama.
Então, eu demorava a adormecer. As estórias do serão não me saiam da cabeça e acabavam por povoar os meus sonhos.
 

Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Parábéns G. E. Raízes do Sobral Gordo

A  aldeia natal de meu pai , à qual me ligam laços afectivos muito fortes, está de parabéns.
Desta vez porque   o Grupo Etnográfico Raízes do Sobral Gordo festeja o seu nono aniversário.
Parabéns aos elementos que formam este grupo. Faço votos para que continuem, por muitos anos, a divulgar a música e as danças da nossa região, com o gosto e coragem com que o têm feito ao longo destes nove anos de existência.
Para comemorar a data, o grupo vai organizar uma festa no próximo dia 4 de Março, no Clube Recreativo do Feijó. O Programa é o seguinte:

 


Uma vez mais,
 Parabéns!

Obrigada pela sua visita. Volte sempre.
 

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Dia dos Namorados

Em dia de Namorados,  que melhor que a poesia de Camões?

Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?


 
Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Notícias de Pomares

Foi em Fevereiro de 1960 que o Notícias de Pomares enunciou alguns dos acontecimentos que, até então, marcaram a vida da povoação.
Eis um extracto do Nº 13 do referido jornal, donde ressalta a notícia do início da feira de Pomares.


Pomares


Obrigada pela sua visita. Volte sempre.



sábado, 11 de fevereiro de 2012

Agenda da Casa da Comarca de Arganil

Da Direcção da Casa da Comarca de Arganil chegou-me um e-mail com a sua agenda de actividades, que passo a divulgar.


A direcção da Casa da Comarca de Arganil informa os vários eventos previstos na Casa nos próximos meses.
- 17 Fevereiro – Participação na Exposição “Regiões e Tradição” – Mostra de Cultura Popular – Escola Secundária José Gomes Ferreira (Lisboa)
- 18 Fevereiro – Carnaval da Associação das Casas Regionais de Lisboa – Casa do Concelho de Tomar
- 19 Fevereiro – Almoço Dançante na Casa da Comarca de Arganil (marcações 212347926)
- 24 Fevereiro – 21h00 -  Assembleia Geral da Casa da Comarca de Arganil
- 03 Março – 20h00 – Noite de Fados na Casa da Comarca de Arganil (marcações 212347926)
- 31 Março – Festa do Rancho Folclórico da Ribeira de Celavisa – Casa da Comarca de Arganil
- 21,22 e 29 Abril – Torneio de Sueca – Inscrições na Casa da Comarca de Arganil até 2 Abril
- 20 Maio – II Encontro de Concertinas - Inscrições na Casa da Comarca de Arganil até 10 Maio
Lembramos ainda que o Bar da Casa da Comarca de Arganil se encontra em pleno funcionamento com serviços de almoços e jantares bem como eventos especiais (marcações por telefone – 212347926)
 Convidamos todos os associados, amigos e conterrâneos a participar nas actividades da Casa da Comarca de Arganil, uma referência no regionalismo Arganilense.

Obrigada pela sua visita. Volte sempre.


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

No Rio Alva - Avô

No momento de poesia da semana, uma vez mais me sirvo da inspiração duma amiga da serra do Açor.
É ela  Cleo Dias,   natural da aldeia de Pai das Donas que, no seu blog Impulsos  , nos leva algumas vezes a viajar pela serra,  através  da sua prosa e da sua  poesia, tal como acontece com o poema que se segue.




No rio Alva - Avô
Fui ao rio certa manhã
levava saias compridas
levava, que estava frio
... para me cobrir, agasalhos
... todos feitinhos de lã

Começou-se o rio a rir
do meu suave jeito d'andar
e do verde dos meus olhos
que o estavam a fascinar

- Menina, toca a despir
que te quero contemplar...
mergulha em mim
que sou rio, não te irei afogar

Fosses flor eu te daria
uma abelha p'ra te amar
Mas és mulher, és vaidosa
dou-te minhas águas tranquilas
para que te possas mirar

Oh, Rio de que tu falas?
Sim, sou mulher, ainda menina
Da Bordadura do Alva...
Não farei a minha sina

Tenho asas, quero voar
não me deixarei enredar
que me queres apaixonar

Ficou o Rio a chorar
pelos olhos da menina...

Ficou a menina a sonhar
pelo abraço do Rio.


Av
    Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Memórias da Aldeia - Ceia na Casa da Avó

Chegámos a casa. A avó rodou a chave que estava na porta desde que saíramos  de manhã cedo e entrámos.

A tia tirou o cântaro da cantareira e seguiu logo para a fonte. O avô foi arrumar as cestas,  cestos, sacas, cordas e podões na loja, onde ficariam até ao dia seguinte. Agarrou num molho de cavacas e torgas que colocou no canto da lenha  donde a avó já tinha tirado alguns gravetos e chamiças e se encontrava em frente à lareira num banco baixinho, abanando a abada do avental, tentando atear uma brasa que ainda resistia desde o jantar. Sentada no sobrado da cozinha funda, eu observava a pequena chama que começava a libertar-se da brasa e incendiava as chamiças que a avó lhe encostava.  O fumo começava o seu percurso  a caminho das frestas das lajes que cobriam  a casa e ganhava diversas  formas atravessando o fumeiro e o caniço vazios e prontos a receber os respectivos  produtos.
Na copeira, a ténue luz do candeeiro passava já despercebida perante o enorme clarão que entretanto se formara na fogueira fizendo com que as batatas já fervessem na panela de ferro.

A  avó juntou-lhes algumas folhas de nabos que apanhara durante a tarde no meio do milho, enquanto regava e a tia, que entretanto chegara da fonte, afastava com umas tenazes algumas brasas sobre as quais começou a colocar sardinhas.
Pendurado no caldeirão, suspenso num barrote que segurava as lajes, o caldeiro  aguardava os bocados de botelha que a avó se preparava para cortar e  onde juntaria  mais tarde os troços dos nabos e os restos da refeição, que serviriam de  alimento ao bácoro que comprara há tempos  na feira de Avô.
O cheirinho das sardinhas assadas que começava a libertar-se  despertava-me os sentidos e a água crescia-me na boca, agora com grande intensidade.
Puxei a tripeça para a junto de nós, coloquei-lhe a broa e os garfos de ferro em cima. A avó escoou as batatas e os nabos  e despejou-os numa bacia que colocou no centro da tripeça. A tia colocou as sardinhas já assadas sobre as batatas que ficaram regadas com o molho que elas largavam. O avô chegava da loja onde fora encher  um pequeno  garrafão com vinho saído directamente do pipo e a almotolia com o azeite que tinha na pia de granito. Sentou-se num “mocho” num dos locais vagos ao lado da tripeça e iniciámos a refeição.
 Numa das mãos,  uma sardinha sobre um  pedaço de broa, na outra o garfo que procurava na mesma bacia, as batatas e os nabos que acompanhavam o conduto daquela ceia, faziam as minhas delícias. Assim, ninguém se apercebia se eu comia muito ou pouco. Mesmo assim,  muitas vezes lá ouvia a tia ou a avó: “ Não brinques menina, ainda não comeste nada de jeito. Quando os teus pais chegarem vão pensar que te deixámos passar fome.”

Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Aniversário do Blog

Por incrível que pareça, já fez ontem quatro anos que iniciei este blog. A azáfama dos últimos meses fez-me esquecer a data e, neste momento, fazendo uma retrospectiva destes anos, chego à conclusão de que o último foi aquele em que senti mais dificuldades em manter a assiduidade inicial. Sendo este um blog pessoal não foi  a falta de material nem de ideias  a causa desta situação. O meu computador foi o principal causador  pois passou o ano com grandes problemas, mas penso estar completamente resolvido.
Assim, nesta data, agradeço a todos os seguidores do blog que simpaticamente me têm acompanhado. Uns desde a primeira hora, outros que se têm vindo a  juntar, uns que deixam o seu comentário, outros que passam sem deixar rasto, todos estão no meu pensamento no momento em que faço as postagens. Interrogo-me muitas vezes se os  leitores da minha região vão gostar de conhecer os meus gostos, as minhas estórias, as minhas  memórias e as  notícias da região e se aqueles que nada têm a ver com a serra, alguns até de fora de Portugal, gostarão de conhecê-los também. No entanto vou continuar enquanto isso me der algum prazer.
Para todos, nesta data, junto um selo comemorativo, num agrdecimento profundo pela vossa estima e consideração.

 
Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Cebola que foi, S. Jorge da Beira que é...



Várias foram as aldeias do país que mudaram de nome ao longo dos tempos. A minha aldeia aprece no Registos Paroquiais com o nome de Sobral e só mais tarde aparece com uma designação aumentada para  Sobral Magro.
Do outro lado da serra existe uma aldeia em que o nome mudou completamente: Cebola. Esta designação já  aparece num documento em 1245, mas pertenceu como lugar da freguesia de Casegas até 1887. A povoação aparece depois com o nome de S. Jorge de Cebola, talvez por ter como padroeiro S. Jorge.  Finalmente, em 1960, a aldeia passou a denominar-se definitivamente para  S. Jorge Beira.
Uma coisa é certa, Cebola, S. Jorge de Cebola  ou S. Jorge da Beira, esta é uma bonita aldeia, situada numa das  encostas da serra do Açor, não muito longe  do seu ponto mais alto localizado no Picoto de Cebola, a 1418 metros de altitude.
  - S. Jorge da Beira -
Foto: Alfredo Pereira

Em grande parte, o seu desenvolvimento deve-se ao início da actividade mineira ali bem perto nas minas da Panasqueira que durante a primeira metade do século passado, atingiu o seu auge e trouxeram para a região um grande número de migrantes, alguns dos quais acabaram por ali se fixar. 
Apesar de situada no concelho da Covilhã,  encontra-se numa zona próxima do limite do concelho de Arganil,   não admirando pois,   ser bem conhecida de muitos  habitantes do outro lado da serra, que durante muitos anos trabalharam nas Minas.
Muitas foram as histórias que ouvi contar aos meus conterrâneos que ali trabalharam, sobre a difícil actividade mineira.  Deles faz parte o meu pai que ali trabalhou durante um curto período de tempo, ainda bastante jovem.

- Minas da Panasqueira -

A freguesia de S. Jorge da Beira merece uma vista. Para além da paisagem serrana  de uma beleza indescritível, possui um  património histórico digno de ser apreciado. Dele fazem parte  a Casa Museológica, as capelas de Nossa Senhora de Fátima, de Santa Bárbara (Panasqueira), de Santa Teresinha (Casal de Santa Teresinha), de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (Vale de Cerdeira), o Coreto (Cambões), a Casa de Cinema e Teatro (Panasqueira) e as Galerias Mineiras situadas na Panasqueira e Vale de Ermidia.

Obrigada pela sua visita. Volte sempre.




segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Memórias da Aldeia

A fazenda dos meus avós era das mais afastadas da aldeia.
Em tempo e rega, esperávamos que o Sol passasse pelo Penedo Branco para tapar a água ou deitá-la à ribeira, conforme as andadas , e só depois nos fazíamos ao caminho de regresso a casa.
A avó carregava num cesto de  alqueire, algumas batatas para a ceia e na mão levava a bilha do leite  para   fazer o queijo,  A tia carregava, à cabeça, a cesta cheia de roupa que a avó lavara na ribeira durante a tarde e na abada do avental algumas baijas que apanhara nos feijoeiros que subiam agarrados às canas do milho, Eu, no meu cesto de quarta, levava uma boneca feita  com trapos velhos e meia dúzia de cacos de pratos, que me serviam de loiça  quando brincava às casinhas. O avô seguira por outro caminho para botar a ceia ao gado, porque os currais ficavam do outro lado da ribeira e só mais tarde se iria juntar a nós.
O caminho era mau, longo, e íngreme mas, à medida que passávamos pelas fazendas de outros habitantes do Sobral, metíamos conversa e esperávamos por eles, aumentando os caminhantes no regresso a casa.
Era já de alpardo quando chegávamos à ponte da ribeira e iniciávamos a subida da  rampa que nos levava à povoação. O sino da capela tocava as “Avé Maria” e todos rezávamos:

O anjo do Senhor anunciou a Maria
E ela concebeu do Espírito Santo.
Avé Maria...

Eis aqui a escrava do Senhor
Faça-se em mim segundo a vossa palavra.
Avé Maria...

E o Verbo Divino encarnou
E habitou entre nós.
Avé Maria...
Já na povoação,  cada um seguia para sua casa, para outras actividade até que finalmente chegasse a hora de ir para a cama.
- Até depois, Marquitas.
- Fica-te com Deus.

 
Obrigada pela sua visita. Volte sempre.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Bolo de Folha (Massa de broa)

Escrevi há algum tempo sobre os bolos de folha  que a minha avó fazia na tentativa de me  fazer gostar de pão de milho. Consegui uma receita que se parece mais ou menos com aquilo que ela fazia que vou partilhar com os meus seguidores.



Ingredientes:

Massa de broa de milho (q.b.)
Sardinhas médias
Azeite (q.b.)
Cebola (q.b.)
Sal (q.b.)

Pique a cebola para uma taça. Junte um pouco de azeite e um pouco de sal e misture tudo com as mãos.
Pegue um pedaço de massa de broa de milho já levedada, conforme a quantidade de bolos que se queiram fazer. Junte o preparado à massa e tenda uma pequena broa de forma oval, colocando uma  sardinha no meio. Embrulhe numa folha de couve, coloque no forno de lenha e deixe cozer.
Quando estiver cozida, retire do forno. Antes de comer, retire a folha que o envolve.


Obrigada pela sua visita. Volte sempre.


quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

A amiga Maria Alice  vai lançar mais um livro.
 "Vida nossa de cada dia" é o seu título e como a autora escreve " Vida nossa de cada dia, é coberta de desafios a desvendar para vivê-la com serenidade e paz."


Decerto será mais um sucesso desta amiga do Brasil.
Mais informações estarão dentro em breve à disposição  no seu "blog" em:
http://www.mariaalicecerqueira.com


Obrigada pela sua visita. Volte sempre.





quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Férias na Aldeia

Chegadas as férias,  mudava de vida. Os pais achavam que lhe fazia bem mudar de ares e ir para aldeia  passar os meses de Verão, em contacto com uma realidade completamente diferente dos restantes meses do ano.
Ao chegar, a primeira coisa que fazia era atirar com os sapatos para debaixo da cama e percorrer, descalça, as ruas da aldeia saltitando de pedra em pedra, saudando efusivamente  os  habitantes que com ela se cruzavam.
Seguia depois pelas estreitas veredas  , pulando no borralho e  fazendo levantar uma pequema nuvem de poeira.
Depois, já no bordo da levada provocava a aflição dos familiares que receavam que ela, pouco habituada a estes estreitos carreiros  repletos de precipícios,  se desequilibrasse e caísse.
Nunca ia sossegada. As ervas  causavam-lhe impressão nas pernas e então  coçava uma com a outra para aliviar a comichão e todos se riam da sua forma desengonçada de andar, mas ela pouco se importava. Chegada à fazenda ia logo para a ribeira onde a tia lavava a roupa esfregando-a numa enorme pedra semi-submersa. Arrepiava-se ao molhar os pés na água fria do açude onde tentava apanhar os alfaiates que esvoaçavam à tona de água. Saltava de pedra em pedra e, por vezes,   escorregava nos lismos que a faziam cair dentro de água. A gargalhada dos familiares ecoava na ribeira, mas nada a demovia de usufruir daquela liberdade que só conseguia sentir quando estava na aldeia.



Obrigada pela sua visita. Volte sempre.